Padre Reginald Lagrange: Da graça santificante, semente da glória, derivam as virtudes infusas, primeiramente as virtudes teologais, a maior das quais, a caridade, deve, como a graça santificante, durar para sempre


01.05.2017 -

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Esta vida eterna começada[1] constitui todo um organismo espiritual, que deve desenvolver-se até à nossa entrada no céu. A graça santificante, recebida na essência da alma, é o princípio radical deste organismo imperecível, que deveria durar para sempre, se o pecado mortal, que é uma desordem radical, não viesse por vezes destruí-la. (Cfr. ST, I-II, Q109, A3 e A4) Da graça santificante, semente da glória, derivam as virtudes infusas, primeiramente as virtudes teologais, a maior das quais, a caridade, deve, como a graça santificante, durar para sempre. "A caridade nunca passará, - diz São Paulo, "...agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade, mas a maior das três é a caridade" (I Cor 13, 8-13). Ela durará para sempre, eternamente, quando a fé tiver desaparecido para dar lugar à visão e quando à esperança suceder a possessão inadmissível de Deus claramente conhecido.

O organismo espiritual completa-se pelas virtudes morais infusas que se referem aos meios, enquanto as virtudes teologais se voltam para o fim último. São estas outras tantas funções admiravelmente subordinadas, infinitamente superiores àquelas do nosso organismo corporal. Elas chamam-se: prudência cristã, justiça, fortaleza, temperança, humildade, mansidão, paciência, magnanimidade, etc.

Finalmente, para remediar a imperfeição destas virtudes, que sob a direcção da fé obscura e da prudência conservam ainda um modo demasiado humano de agir, há os sete dons do Espírito Santo, que habita em nós. São como velas de um barco e dispõem-nos a receber dócil e prontamente o sopro do alto, as inspirações especiais de Deus, que nos permitem agir de uma maneira já não humana, mas divina, com o entusiasmo necessário para percorrer o caminho de Deus e não recuar diante dos obstáculos.

Todas estas virtudes infusas e estes dons crescem com a graça santificante e a caridade, diz S. Tomás (ST, I-II, Q66, A2), assim como os cinco dedos da mão se desenvolvem conjuntamente, como todos os órgãos do nosso corpo aumentam ao mesmo tempo. Assim sendo, não é possível conceber que uma alma tenha alta caridade sem ter o dom da sabedoria em grau proporcional, quer sob forma nitidamente contemplativa, quer sob uma forma prática mais directamente ordenada para a acção. A sabedoria de um São Vicente de Paulo não é absolutamente semelhante à de um São Agostinho, mas ambas são infusas.

Adaptado de: Pe. Reginald Garrigou-Lagrange, OP, in As Três Vias e as Três Conversões, Cap. I

Notas:

1. O autor explica mais atrás que a "vida eterna começada" consiste na crença em Deus com fé viva, unida à caridade, ao amor a Deus e ao próximo. Numa vida sobrenatural idêntica, em germe, à vida eterna: "A graça não é senão um certo começo da glória em nós." (ST, II-II, Q24, A3; I-II, Q69, A2; De Veritate 14, A2)
Explica que esta é necessária para o progresso espiritual: "Gratia est semem gloriae." A diferença para a vida sobrenatural do céu é uma só: aqui na terra conhecemos a Deus (sobrenatural e infalivelmente) pela obscuridade da fé e não na clareza da visão. Esta vida é dada pelo baptismo e nutrida pela Eucaristia e é superior a qualquer milagre, é supra-humana e até supra-angélica.
Dizia Bossuet: "A vida eterna começada consiste em conhecer a Deus pela fé (unida à caridade), e a vida eterna consumada consiste em ver a Deus face a face desveladamente. Jesus Cristo nos dá uma e outra, porque no-la mereceu e porque Ele é o seu princípio em todos os membros que anima." (Méditations sur L'Évangile, IIa P, 37º dia, em João 17, 3)
Tal como diz a liturgia no prefácio da Missa Pro Defunctis: "para os vossos fiéis, Senhor, a vida não é tirada mas mudada e transfigurada".

Fonte: Blog Senza Pagare

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Nota de www.rainhamaria.com.br

Diz na Sagrada Escritura:

"Haverá juízo sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o julgamento. De que aproveitará, irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? Acaso esta fé poderá salvá-lo? Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras. Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras". (São Tiago 2, 13-18)

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Lembrando...

Beata Teresa de Calcutá escreve às suas Irmãs Missionárias da Caridade.

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"Os pobres têm sede de água, mas também de paz, de verdade e de justiça. Os pobres estão nus e têm necessidade de roupas, mas também de dignidade humana e de compaixão para com os pecadores. Os pobres estão sem abrigo e têm necessidade de um abrigo feito de tijolos, mas também de um coração alegre, compassivo e cheio de amor. Eles estão doentes e têm necessidade de cuidados médicos, mas também de uma mão amiga e de um sorriso acolhedor.

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Os excluídos, os que são rejeitados, os que não são amados, os prisioneiros, os alcoólicos, os moribundos, os que estão sós e abandonados, os marginalizados, os intocáveis e os leprosos [...], os que estão na dúvida e confusos, os que não foram tocados pela luz de Cristo, os que têm fome da palavra e da paz de Deus, as almas tristes e angustiadas [...], os que são um fardo para a sociedade, os que perderam toda a esperança e a fé na vida, os que se esqueceram como se sorri e os que já não sabem o que é receber um pouco de calor humano, um gesto de amor e de amizade – todos eles se voltam para nós para serem reconfortados. Se lhes viramos as costas, viramos as costas a Cristo".

in Carta às suas colaboradoras de 10/04/1974

 

Veja também...

Madre Teresa dialogou e teve visões de Jesus antes de fundar as Missionárias da Caridade, algo que não se soube até a sua morte. Disse Jesus: Quero freiras cheias de amor cobertas com a minha caridade na Cruz

Santo Afonso de Ligório: Ninguém pode amar a Deus sem que tenha amor ao próximo, porquanto o amor de Deus e o do próximo nascem da mesma caridade

Lembrando os Diálogos de Deus com Santa Catarina de Sena: Toda virtude é praticada no próximo. Quem não me Ama, também não ama os homens; por isso não os socorre

Não ter medo de fazer boas obras: Cada um de nós deve imitar Cristo na sua vida, fazendo o bem sem esperar nada em troca, pois os homens são ingratos devido ao pecado original

Papa São Pio X: A sociedade precisa da caridade católica. A fonte do amor ao próximo encontra-se no amor a Deus. Fazer o bem aos outros é fazer o bem ao próprio Jesus Cristo

 


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