Padre Élcio Murucci: "Amarás o Senhor, teu Deus, e o próximo como a ti mesmo" (São Lucas 10, 27)


11.08.2018 -

n/d

Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

O Divino Mestre acabara de dizer aos seus discípulos: “Alegrai-vos por ter os vossos nomes escritos nos Céus!” E um doutor da Lei, para tentar a Jesus, perguntou-Lhe: “Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna?” Que pergunta importante, capital! No entanto, o doutor da Lei fê-la com má intenção: queria armar uma cilada ao Salvador e esperava obrigá-Lo a dizer algo contrário às tradições recebidas, para assim poder acusá-Lo. “O orgulho, diz São Gregório Magno, é o sinal mais certo da condenação de uma alma”.

Nosso Senhor, Sabedoria infinita, para mostrar a inutilidade da insidiosa pergunta do doutor e a sua má fé, coloca-o na obrigação de ser ele mesmo, doutor da Lei, a dar a resposta: “Vós, doutor da Lei, encarregado de explicá-la aos outros, dizei-me, que está escrito na Lei? Como ledes vós”?

Caríssimos e amados irmãos, prouvera a Deus que antes de fazer ou empreender qualquer coisa, perguntássemos a nós mesmos: “Que está escrito na Lei de Deus e da Santa Igreja”? Quais são os meus deveres de estado diante de Deus? Evitaríamos, sem dúvida, muitas faltas!

Mas voltemos ao doutor da Lei. Este escriba não teve mais que repetir os dois preceitos fundamentais que Moisés tinha dado aos Israelitas: “Amarás o Senhor, teu Deus, e o próximo como a ti mesmo”. Fê-lo como quem conhece a sua cartilha, e merece a felicitação de Jesus. Mas sentia-se humilhado; necessitava justificar a sua atitude diante do público. – Amar o próximo, está bem; isso já todos nós sabíamos. “Mas quem é o meu próximo”?

De Jericó a Jerusalém é um terrível deserto. É uma subida abrupta, montanhosa, acidentada, ladeada de barrancos, uma subida de uns trinta e oito quilômetros,  cujos extremos apresentam uns mil metros de desnível. Jericó é um oásis, a cidade mais antiga do mundo (várias vezes reconstruída) e também a mais baixa do mundo, a 340 metros abaixo do nível do mar. Pois bem, Jesus situa a sua parábola do bom Samaritano neste cenário.

Nosso Senhor Jesus Cristo, a Sabedoria eterna, graças a uma inexcedível mestria, vai obrigar o legista a confessar uma coisa que parecia um absurdo na boca de um doutor da lei. “Israelita que matar um pagão, dizia o Talmud – não merece a morte, porque o pagão não é próximo” E um samaritano? Os judeus tinham um ódio e desprezo profundos por eles. Tanto assim, que, quando os doutores do templo quiserem exprimir todo o ódio que tinham a Jesus, chamar-lhe-ão samaritano.

Contada a parábola, só faltava tirar a moral da história: – “Qual dos três, perguntou Jesus ao doutor, é, na tua maneira de ver, o próximo daquele que caiu na mão dos ladrões? Não havia dúvida possível, mas o escriba absteve-se, com muita habilidade, de pronunciar o nome odioso: – “O que se compadeceu dele -responde” – “Então vai, exclamou Jesus secamente – e faze tu o mesmo”. Como se dissesse: Tem presente Sr. doutor da lei, que a lei da caridade deve-se observar em relação a todos: judeus e pagãos, descendentes de Abraão e samaritanos. Jesus não se quer limitar a oferecer uma descrição bonita ou a dar uma lição teórica: “Faze tu o mesmo”. Na verdade a ideia não tem valor nenhum se não se transforma em vida. Faze tu o mesmo, ainda que se trate de um infiel, de um inimigo, de um samaritano.

A parábola do bom Samaritano é o quadro mais belo e mais perfeito que se poderia fazer do amor do próximo. O Samaritano vê um homem por terra, mortalmente ferido. Para ter o amor do próximo, para praticar esta virtude, é preciso primeiro ver, não desviar os olhos da miséria que se nos apresenta. Não basta; é preciso ainda saber ver, deter-se um instante no caminho, considerar e compreender os males alheios, e não fazer como o sacerdote e o levita, que viram e passaram. Depois é preciso ter compaixão, aproximar-se, pelo coração, daqueles que sofrem, não limitar-se a uma compaixão estéril, mas imitar o Samaritano, dar como ele, em favor do próximo, tempo, dinheiro, trabalho, a sua própria pessoa, em uma palavra, dedicar-se como uma boa mãe.

Caríssimos, a parábola do Samaritano tem ainda uma explicação que lhe deram os Santos Padres, e que não convém deixar em silêncio. Explicam eles: – O homem que caiu em poder dos ladrões, é o pecador abandonado, semi-morto, na estrada da vida, moralmente ferido pelo demônio em suas faculdades naturais, e por ele despojado dos bens sobrenaturais. O sacerdote e o levita que passam sem socorrê-lo, é a Sinagoga tão somente preocupada com a leitura da Santas Escrituras, lendo-a sem compreendê-la, estudando-a sem praticá-la. O Samaritano, é Nosso Senhor Jesus Cristo que desce da Jerusalém celeste e atravessa a terra coberta de demônios que invadiram a criação inteira. Jesus viu a humanidade despojada da graça e semi-morta, teve compaixão do seu estado, aproximou-se, e, abrindo o vaso precioso da sua santa Humanidade ferida pelos nossos crimes, dele tirou o óleo das suas lágrimas e o vinho do seu sangue, para curar-lhe as chagas. Depois, tomou nos braços o pobre pecador, o fez subir à sua própria cruz, e o conduziu à hospedaria que é a sua Igreja. Passou à cabeceira do enfermo uma primeira noite, e, no dia seguinte, na manhã da sua ressurreição, chamou o estalajadeiro, os ministros da Igreja, e lhe disse: Cuidai bem desse enfermo. Eis aqui dois dinheiros – o Evangelho e os Sacramentos; com esses recursos cuidai do seu completo restabelecimento e, quando voltar – no dia do juízo – então te pagarei todo o restante do vosso trabalho.

Terminemos com uma oração de Santa Catarina de Sena: ” Ó Cristo, doce Jesus, concedei-me esta santa caridade a fim de perseverar no bem e de jamais me afastar dele, pois quem possui a caridade está fundado em Vós, rocha viva e, segundo os Vossos exemplos, aprende de Vós a amar o seu Criador e o seu próximo. Em Vós, ó Cristo, leio a regra e a doutrina que me convém guardar, porque Vós sois o caminho, a verdade e a vida; lendo em Vós, poderei seguir o caminho reto e atender somente à honra de Deus e à salvação do próximo”. Amém!

Visto em: fratresinunum.com

 

Veja também...

Disse o Rei Jesus - Em verdade eu vos declaro; todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes (São Mateus 25, 40)

Lembrando os três amigos do homem e o dia do Juízo. Qual deles o acompanhará perante o Juiz?

Lembrando: Santa Teresa de Calcutá escreve às suas Irmãs Missionárias da Caridade

Santo Afonso de Ligório: Ninguém pode amar a Deus sem que tenha amor ao próximo, porquanto o amor de Deus e o do próximo nascem da mesma caridade

Diálogos de Deus Pai com Santa Catarina de Sena: Sou aquele que gosta de poucas palavras e de muitas ações

 


Rainha Maria - Todos os direitos reservados
É autorizada a divulgação de matérias desde que seja informada a fonte.
https://www.rainhamaria.com.br

PluGzOne