Artigo do Padre José do Vale: Chega de perdas de católicos!


12.09.2012 - Em 1970, o Jornal Correio de Rio Grande do Sul, estampava essa matéria: “CRESCE NÚMEROS DE PADRES QUE ABANDONAM A BATINA”.

“A quantidade de sacerdotes católicos que estão se retirando do ministério está se constituindo em um problema para bispos e superiores de ordens religiosas, segundo um relatório confidencial que está circulando entre os líderes católicos do mundo inteiro. O estudo foi realizado por centro católico da Europa Ocidental. Falando a respeito do problema dos sacerdotes que em número cada vez mais numeroso estão se retirando do ministério, o relatório diz: “Segundo a região, a atitude varia entre condenação e aceitação, passando por todas as etapas intermediárias”. Contudo, em muitos países o assunto é ainda tabu... “O resultado disto tudo é que circulam as versões mais fantásticas entre eclesiásticos e leigos sobre o número de sacerdotes que estão se retirando”. O estudo pede que se publiquem listas completas para evitar “rumores falsos, exagerados e realmente alarmistas”. Apenas na Holanda foram publicadas cifras completas. Dos oito mil sacerdotes do país, 30 se retiraram em 1965, 60 em 1966, 115 em 1967 e 400 nos dois anos seguintes. Ao mesmo tempo, o número de sacerdotes que morreram é maior do que os ordenados. Atualmente são ordenados 145 sacerdotes por ano, a metade do que ocorria há dez anos atrás. O relatório tacha de “imaginária e exagerada” a informação dos jornais, segundo as quais desde 1943 na Itália cerca de 10 mil sacerdotes teriam deixado o ministério”.  (Correio/RS. 24/03/1970, p.3).

DOM HELDER E OS PROBLEMAS

Em 1952, ocorreram dois encontros regionais preparatórios para a criação da CNBB: na Amazônia e no Vale do São Francisco. Naquela oportunidade, o ainda padre Helder Câmara enviou aos participantes cinco cadernos que apontavam os principais problemas brasileiros. Com essa atitude, ele enfatizou a necessidade de ser criada uma entidade nacional, de caráter permanente, para facilitar as discussões e debates do episcopado brasileiro, tendo como objetivo chegar às resoluções de maneira mais eficaz. Nesses cadernos, Dom Helder sustentava posições que se diferenciavam das orientações da maior parte dos membros do episcopado e punha a Ação Católica Brasileira à (ACB) à disposição para discutir e sugerir soluções para tais problemas. A escritora Marina Bandeira menciona as afirmações a respeito de alguns desses problemas:
[...] Clero. [...] reduzidíssimo, os Seminários mal conseguem cobrir os claros. [...] Vital para o Brasil e Apostolado Leigo.
[...] Heresias. É indiscutível que em país de ignorância religiosa, como o nosso nada como o esforço positivo pela formação cristã no meio rural, no meio operário, no meio estudantil no meio independente, no meio universitário. Trabalhar, pois, dentro do esquema que estamos sugerindo é atacar na fonte o espiritismo e o protestantismo (Condini, Martinho. Dom Helder Câmara: um modelo de esperança. São Paulo: Paulus., 2008, pp. 20 e 21).

O CRESCIMENTO PENTECOSTAL

“A religião católica não é mais ouvida. as pessoas deixaram de ouvir os conselhos dos padres”.
Cardeal Dom Aloísio Lorscheider
(Veja, 24/04/1991, p. 7)

O IBGE divulgou no dia 29 de junho os dados do Censo Religioso 2010. Em 2000, os evangélicos representavam 15,4% da população. Em 2012, chegaram a 22,2%, um aumento de cerca de 16 milhões de pessoas (de 26,2 milhões para 42,3 milhões). Em 1991, este percentual era de 9,0% e em 1980, de 6,6%. Foi o segmento religioso que mais cresceu no período. A maior concentração de evangélicos está no estado e Rondônia (33,8%) e a menor, Piauí (9,7%). Já os católicos passaram de 73,6% em 2000 para 66,6% em 2010. A redução no percentual de católicos ocorreu em todas as regiões do país. Entre os espíritas, que passaram de 1,3% da população (2,3 milhões) em 2000 para 2% em 2012 (3,8 milhões), o aumento mais expressivo foi observado no Sudeste. O Censo 2010 registrou também aumento entre a população que se declarou sem religião. Em 2000 eram quase 12,5 milhões (7,3%), ultrapassando os 15 milhões em 2010 (8,0%).

BENTO XVI E A RESPOSTA

Discurso do Papa a um grupo de bispos da Colômbia em visita “ad limina”.
“O pluralismo religioso crescente constitui um elemento que exige uma consideração séria. A presença cada vez mais concreta de comunidades pentecostais e evangélicas, não só na Colômbia, mas também em muitas regiões da América Latina, não pode ser ignorada nem subestimada. Neste sentido, é evidente que o povo de Deus é chamado a purificar-se e a revitalizar a sua fé deixando-se orientar pelo Espírito Santo, para dar assim uma renovada pujança à sua obra pastoral, pois sai da nossa Igreja não o faz pelo que os grupos “não católicos” crêem, mas fundamentalmente pelo modo como eles vivem; não por razões doutrinais, mas vivenciais; não por motivos estritamente dogmáticos, mas pastorais; não por problemas teológicos, mas metodológicos da nossa Igreja (V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Documento conclusivo, nº 225). Trata-se, portanto, de sermos crentes melhores, mais piedosos, afáveis e acolhedores nas nossas paróquias e comunidades, para que ninguém se sinta distante nem excluído. É necessário fortalecer a catequese, prestando atenção especial aos jovens e aos adultos; preparar com esmero as homilias, assim como promover o ensino da doutrina católica nas escolas e nas universidades. E tudo isto para que se recupere nos batizados o seu sentido de pertença à Igreja e se desperte neles a aspiração a compartilhar com o próximo a alegria de seguir Cristo e de ser membros do seu Corpo místico”. (L’osservatore Romano, 30/06/2012, p. 5).

QUATRO CARACTERÍSTICAS

“No fiel cumprimento de sua vocação batismal, o discípulo deve levar em consideração os desafios que o mundo de hoje apresenta à Igreja de Jesus, entre outros: o êxodo de fiéis para seitas e outros grupos religiosos” (DA, n.185).
Quatro características que favorecem o crescimento dos Novos Movimentos Religiosos.
1. Lares desfeitos. Questão familiar e as novas modalidades matrimoniais.
2. Sofrimentos. Crises existenciais e problemas diversos.
3. Teologia da Prosperidade. Posição social e econômica para felicidade. A religiosidade de resultado: pedir, buscar e sacrificar por bênçãos.
4. Eclesiologia Paracletológica. Carismática e litúrgica dinâmica. Ênfase no batismo no Espírito Santo, falar em língua, curas, libertação, vidas transformadas, renovadas, avivadas e testemunho da salvação eterna da alma. A liturgia é solta, livre, pragmática, teatral e criativa.

CONCLUSÃO

“O compromisso missionário de toda a comunidade. Ela sai ao encontro dos afastados, interessa-se por sua situação, a fim de reencantá-los com a Igreja e convidá-los retornarem para ela” (DA, n. 226 d).
1. Padres e fiéis devem ser peritos em acolhidas. A primeira impressão é a que fica e permanece.
2. A filosofia cristã deve ser de inclusão total. O resto da obra no coração do crente é por conta do Espírito Santo.
3. O padre e celebrante não devem passar dos 15 minutos em suas homilias. A homilia deve ser fiel às leituras da Palavra de Deus e convincente. A missa e a celebração não são e jamais podem ser algo prolixo.
4. Padres e fiéis: profundos conhecedores da doutrina católica. Praticantes exemplares do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Dizia o Papa Paulo VI: “A mediocridade ofende o Espírito Santo”.
Amar Jesus Cristo, a Igreja, o povo e morrer por estes. O verdadeiro cristão tem consciência pela salvação das almas e responsabilidades na construção de um mundo melhor pautado na ortodoxia, no amor, na verdade e na Justiça.
Conhecedores que somos da perda de católicos, temos uma enorme responsabilidade de mudar essa terrível situação. Somos a geração desse grande desafio e não podemos deixar para as próximas gerações esse triste problema.

Pe. Inácio José do Vale
Professor de História da Igreja
Instituto Teológico Bento XVI
Sociólogo em Ciência da Religião
Pesquisador do CAEEC (Área de Pós-Graduação)
E-mail: [email protected]

www.rainhamaria.com.br

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