Católicos, voltem para casa... Não, eles não voltarão. a não ser que...


10.07.2020 -

n/d

Por Mons. Eric Barr, Patheos – Patheos.com
Tradução livre de Henrique Sebastião

ELES NÃO VOLTARÃO à Santa Missa. Deixe-me repetir: os católicos não voltarão à Missa quando a pandemia terminar. Sei que as paróquias dirão que suas listas de espera estão cheias, que estão cheias na capacidade máxima permitida para a Missa dominical no momento. Mas isso é agora, quando só podemos ter cem pessoas, ou uma congregação só pode admitir a participação de 25 a 35% da capacidade total de uma igreja. Sim, todos nós, padres, temos ouvido sobre o desejo dos nossos paroquianos de voltar aos Sacramentos. E ficamos satisfeitos quando conseguimos que voluntários esterilizem o Santuário e limpem os bancos após cada celebração.

Mas nada disso importa. Eles não vão voltar. Para cada centena ou milhar dos que querem voltar, existem milhões de católicos [mornos] que, na realidade, se sentiram bem à vontade com a possibilidade de viver a sua "fé" livres da obrigação da Eucaristia. E eles vão continuar assim. A maioria silenciosa dos católicos absolutamente não sente falta da Missa. Em minha diocese, antes da praga, costumávamos ter cem mil católicos nas Missas todos os domingos. Sim, há pessoas que querem voltar, mas são apenas uma fração desse número. Não nos iludamos pensando que a maioria silenciosa sente falta da Eucaristia. E há razões para isso.

Razões para não ir à Missa

Antes de mais nada lembremos que, antes da pandemia, a maioria silenciosa dos [declarados] católicos já não ia à Missa. Então, deixe-me alterar a minha declaração: a maioria silenciosa dos fiéis se afastou silenciosamente da Fé eucarística. Eles ainda se consideram católicos, mas a Igreja (...) está prestes a descobrir o pequeno grupo  remanescente de uma Igreja Eucarística. Por que isso aconteceu? Existem razões, mas também existem soluções. Primeiro, tentemos entender as razões pelas quais a maioria dos católicos que frequentam a Missa não retornará à Igreja.

Um conflito de valores

Existe um conflito de valores. Por um lado, fomos informados de que, pelo bem da saúde da sociedade, deveríamos renunciar às grandes reuniões. Ouvimos dizer que isso é o melhor e, pelo bem de muitos, desistimos da comunidade eucarística. Por outro lado, sabemos que a nossa vida de Fé depende da Eucaristia; ansiamos por isso também. Mas aí apareceram os bispos, que [para nosso espanto] se uniram às autoridades seculares e nos mandaram desistir de ir à Eucaristia. Em prol da saúde pública.

Isso cria uma crise de valores dentro de nós, e a maioria – muitos passaram a ver o ato de ir à Missa como um ato de contracultura – foi facilmente convencida de que o melhor não ir à Igreja. Eles não podem ir, mesmo se quiserem, porque as regras atuais proíbem a maioria dos católicos de prestar seu culto, a menos que reservem seu lugar no Altar eucarístico (como quem reserva um assento de jantar em um restaurante requintado). Por mais desconfortáveis ​​que alguns possam ficar, eles fazem sua aposta e preferem seguir a opção da saúde pública.

Uma crise de autoridade

Nossos bispos produziram uma crise de autoridade na Igreja. Eles não pretendiam fazê-lo, mas o fizeram, de qualquer maneira. Alguns podem se lembrar dos anos 1960, quando os bispos nos "liberaram" da lei do jejum e da abstinência de carne na sexta-feira[1]. Foi o levantamento da abstinência de carne que iniciou a causar aquela crise de autoridade, da qual nunca nos recuperamos. Lembra? Em uma semana, você poderia ir para o inferno por deliberadamente comer bife na sexta-feira e, na semana seguinte, isso não só foi liberado, mas até passou a ser visto como uma virtude.

Os bispos, naquela época, eram tidos com maior reverência, mas as pessoas já não se deixavam enganar. Por decreto de alguma Autoridade ou não, você não pode ir para o Inferno em uma semana por fazer algo que, a partir da próxima semana, já era considerado certo. O falecido Rev. Andrew Greeley costumava dizer que foi essa decisão, e não o controle de natalidade, que convenceu os católicos a se voltarem para suas próprias consciências pessoais e a se absolver de ações pelas quais normalmente a Igreja os julgaria.

Agora, os bispos removeram o grave atributo de pecado de perder a Missa aos domingos. É claro que eles tiveram que fazer isso; simplesmente não se pode impor um fardo impossível às pessoas, já que a autoridade secular os obrigou a isso. Mas pensemos um pouco a respeito. Para o católico comum, que nunca estudou Teologia moral, nasceu aqui um dilema. Assim que as igrejas estiverem totalmente abertas, os bispos restaurarão a exigência legal de que os católicos devam ir à Missa no domingo. Que católico normal ficará impressionado com isso, principalmente porque eles não pecaram nos últimos meses por não irem à Missa?

Poderia ter ajudado se os bispos fossem santos, orientados para a liderança e bons pastores, mas hoje eles não o são. Com isso não estou dizendo que eles são [necessariamente] ruins. Quase todos eles são bons homens e pessoas piedosas. Mas eles não são líderes fortes nem bons pastores. Hoje em dia são apenas gerentes, que estão se esforçando ao máximo para moderar uma crise. Mas os seus pronunciamentos não têm força moral; suas reputações estão em frangalhos, por razões óbvias. A maioria dos católicos que frequentam a Missa não prestará atenção quando lhes disserem que agora devem ir à Missa novamente e que perdê-la novamente colocará suas almas em perigo [se é que vão colocar a coisa nesses termos, o que eu duvido].

O grave erro da Missa televisionada

A Missa televisionada é um complemento útil para a Missa assistida localmente, não um substituto. A história mostrará que uma das piores coisas que fizemos foi proliferar as Missas televisionadas durante o período de pandemia. Isso aliviou a consciência de uma minoria, e não atraiu os milhões de católicos que estão privados de Missa. Missas televisionadas foram desenvolvidas para idosos e doentes, mas nunca houve uma teologia sobre ela. Elas eram boas principalmente para compartilhar a Palavra de Deus, mas não contribuíram em nada quanto ao compartilhar seu Corpo e Sangue [preciosíssimos e insubstituíveis]. Como nenhuma catequese foi dada sobre a razão de ser dessas Missas durante a pandemia, muitos as consideram uma substituta adequada. E continuarão a considerá-la assim quando a pandemia terminar.

A Missa de televisão [ou de internet] destruiu a natureza sacramental de nossa Fé e da Eucaristia. Os católicos privados de dogmas já tinham um entendimento pobre da natureza da Eucaristia, mas, agora, por uma simples ação de tentar preencher uma lacuna, eles foram ensinados –, passivamente, admito –, que ver a Missa na TV é tão bom quanto assistir a Missa presencialmente. Nós não pretendíamos fazer isso. Nós pensávamos que estávamos fazendo a coisa certa. No entanto, não poderíamos ter matado melhor o verdadeiro entendimento da Eucaristia se tivéssemos contratado os hereges eucarísticos das eras passadas para voltar e pregar para nós. Na verdade, perdi um padre amigo porque não o deixava postar a sua Missa de TV da sua paróquia na minha página do Facebook. Eu tinha sérias razões para não fazer uma Missa na TV para quem quisesse, e não iria contribuir para diminuir a nossa compreensão da Eucaristia.

Restrições à assistência de Missa levam a encargos impossíveis

Como dissemos, tornamos mais difícil assistir à Missa. Segundo, os fiéis têm que usar uma máscara. Terceiro, eles precisam ficar distantes das outras pessoas. Quarto, seus lugares são esterilizados depois que vão embora, como se fossem um germe em uma placa de Petri eclesial. Quinto, porque temos que formar voluntários para manter a lotação permitida, adotar medidas especiais, levar as pessoas aos seus assentos e fazê-las sair da igreja, é fácil para os voluntários se tornarem pequenos ditadores de acesso aos Sacramentos (podendo eles serem frustrados monitores de salas de aula). É demais para a comunidade. Estou brincando um pouco agora, mas isso é desconfortável para os leigos.

Sem retorno … A menos que …

Agora, reconheço que esta é uma avaliação sombria, mas garanto que a maioria dos católicos que frequentam a Missa não voltará, a menos que façamos alguma coisa. E cabe aos bispos fazerem isso. Eu sei que entro na esfera deles. Como disse, eles são bons homens, mas, que eu saiba, bem poucos deles –, se é que há algum –, desenvolveram a catequese necessária para trazer os fiéis de volta à Missa. Eles apenas presumem que a multidão retornará. Sem chance. Vivemos em uma sociedade que diz que a atividade que gritar mais alto será aquela a ser respondida. As pessoas descobriram que muitas coisas disputam o seu tempo. Ficamos notavelmente silenciosos, muitas vezes rolando como cachorros açoitados, aos pés da autoridade secular, permitindo que ela nos dissesse o que fazer.

Pode parecer simplista, mais uma vez, explicar aos católicos por que uma Missa real e presencial é necessária para a sua saúde espiritual, mas é exatamente isso que precisamos fazer. Para algumas pessoas, a pandemia fortaleceu sua fé, mas dê uma olhada na última grande praga que assolou a Terra – a Peste Negra. ela enfraqueceu seriamente a Igreja e não gerou uma boa resposta para incentivar e direcionar espiritualmente os católicos a uma fé mais firme. Em vez disso, tivemos um movimento pendular de mediocridade em direção à dita Reforma.

É tempo de pregar e evangelizar os leigos

Uma diocese que conheço está começando seu próprio Ano Santo Eucarístico. Brilhante da parte daquele bispo! Será um sucesso. Mas a catequese não é a única coisa necessária. Agora é a hora de rever como são as nossas liturgias, quão boas são as pregações e como incentivamos os leigos a evangelizar. A música, a pregação e a evangelização dos leigos para os leigos realmente ajudarão a impulsionar o retorno à Eucaristia. Mas isso exige grande vontade das autoridades estabelecidas, sejam bispos ou padres. É preciso um trabalho real. E não tenho certeza se a Igreja está pronta ou com essa energia.

Não é realmente tão difícil de fazer. Não exige um diploma em ciência de foguetes. As reformas dominicana e franciscana do século XIII e o alcance jesuíta ao mundo secular no século XVI revitalizaram essa grande comunidade da Igreja e mais uma vez mudamos o mundo. Então, o desafio é nosso. Lembre-se, eles não voltarão se não fizermos nada. Eles simplesmente não virão. Aproveitem a oportunidade, bispos, padres, diáconos e leigos bem formados. Temos uma janela de oportunidade. Não vamos desperdiçar isso.

[1] Essa disciplina ainda permanece, mas foi afrouxada. Até 1983 houve a proibição, até a promulgação do novo Código de Direito Canônico (CDC). Neste, no seu cânon 1251, lemos que continua sendo obrigatório fazer "abstinência de carne ou de outro alimento [...] em todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades". Em outras palavras, a abstinência da carne nesse dia não é mais obrigatória, podendo ser substituída por alum outro alimento. Com relação a este mesmo cânon, a CNBB é ainda mais liberal, afirmando que todo fiel católico brasileiro pode substituir a abstinência de carne também por uma obra de caridade ou um ato de piedade, ou ainda trocar a carne por um outro alimento [conf. o Diretório da Liturgia e da organização da Igreja no Brasil pela CNBB, 2010]. Saiba-se também que, atualmente, a exigência da lei é para os que já completaram catorze anos de idade e não a partir da idade da razão, como antes, conforme o cânon 1252 do CDC.

Fonte: www.ofielcatolico.com.br

 

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