25.02.2008 - Três textos chamaram minha atenção nas últimas semanas. Em primeiro lugar, o belo texto do pe. Otto Dana (atual pároco da Igreja Sant’Ana em Rio Claro), publicado aqui neste jornal, numa exaltação à vida. Logo nas primeiras linhas, ele afirma que já não pertencemos a uma “sociedade” e sim a um “mercado”. Pe. Otto faz uma análise do universo em que vivemos, do absurdo das condições atuais, um mundo em que a vida humana também se reduz a um objeto de mercado. E ele vai um pouco além, prevendo que, logo mais, não seremos mais identificados pelo nosso RG e sim por um chip.
O artigo aborda a questão da vida e sua plenitude, o direito que todo ser humano tem a ela, em qualquer circunstância. A vida é preciosa, sempre. Ela é o elemento primordial a reger cada momento da criação – desde o primeiro sinal de sua existência, até a sua finitude completa. E é neste terreno que o homem vem brincando de ser Deus, na manipulação do código genético, pisando em seara divina. Ao desafiar Deus, o homem não apenas está dando um passo perigoso para si mesmo, mas sobretudo falhando no respeito para com o Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis, atraindo a Sua santa ira. Alguém já ouviu a expressão “ira divina”?
Nas leis de Deus, o homem não pode ser visto como alguém descartável, sem rosto e sem nome. O homem não pode ser desprezado porque envelheceu, e já não serve para um sistema voraz que consumiu a última luz do seu brilho. O ser humano não pode ser identificado por um chip colocado na ponta do seu dedo, sob a pele, para substituir o cartão de crédito e ser controlado por um satélite. Sua dignidade não pode ser aviltada, pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus para ser amado e respeitado. Contudo, no mundo de hoje, onde está este amor?
Mas é preciso que o homem moderno também tenha respeito por si mesmo ou se faça respeitar. Que não se deixe manipular pelas seduções de um mercado cada vez mais tentador, praticando um consumismo desregrado. Escreve o pe. Otto: “Uma nova geração de computadores e celulares não resiste a um mês. Já saímos da loja ou da agência com o último modelo de celular ou de carro ultrapassado. Não é mais a idade que nos torna velhos. É a mercadoria, a roupa, a filmadora que usamos”. E os incautos caem nesta rede facilmente, não podem ver a última novidade, sem sentir coceira nas mãos, ávidos por obter a engenhoca do momento.
A dignidade humana tem um caráter social e político. Pessoas são seres humanos com um valor em si mesmas e precisam ter suas necessidades básicas atendidas. A vida vegetal e animal também merecem respeito. Não se pode olhar para uma floresta com olhos gulosos, antevendo o desmate, o pasto, o lucro; rios e peixes são fontes de vida, dons das mãos do Criador e não devem ser explorados de forma irracional. Mas até quando assistiremos ao vergonhoso assassinato da vida?
Outro texto que me fez refletir foi o de José Antonio de Godoi, presidente da Acipi (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba), abordando o tema do respeito ao trato da coisa pública, cada vez mais aviltada. Mais um escândalo: o caso dos cartões corporativos, o uso inadequado dos recursos públicos, que agora vem à tona, num momento em que o país parou para brincar o carnaval. “Depois da folia é o que ano começa”, dizem – e deveriam ter início as investigações de mais esta farra do governo com o dinheiro público. A ministra Matilde Ribeiro já deu adeus ao cargo, flagrada no caso da tapioca. Sem comentários. Sim, respeito é bom e nós merecemos. O povo brasileiro o merece, por todos os descalabros a que já assistiu, desde o primeiro mandato deste governo.
O terceiro texto é o da psicóloga e escritora Maria Regina Canhos Vicentin, publicado na Internet, também sobre o respeito. Segundo a autora, “de uns tempos para cá, a educação e a cordialidade parecem não ser mais necessárias. Cada qual diz o que quer, para quem bem entende, sem se preocupar com o resultado de suas palavras ou ações”. A dra. Regina lembra-nos do tempo em que chamávamos o pai de “senhor” e a mãe de “senhora”. Eu sou deste tempo, quando também se pedia a bênção aos tios e parentes e havia o costume de beijar-lhes as mãos, quando os cumprimentávamos. Antes de dormir, pedíamos: “a bênção, pai”. E havia uma profusão de bênçãos derramadas sobre todos. Tempos mais santos, mais inocentes?
Escreve a dra. Regina: “Educação é algo que se ensina e se aprende de pequeno. Quem nunca pediu desculpas pelo mal feito quando criança, provavelmente não sentirá a necessidade de fazê-lo mesmo quando adulto. Quem não sabe agradecer aos pais pelo sorvete hoje, provavelmente irá cobrar pelo carro amanhã, afinal, não pediu para nascer e precisa viver com conforto.”
E mais: “Tem gente que ganha a parada no grito. Isso é verdade, sim. Sapateia, esperneia, dá murro na mesa, e acaba levando a melhor. Mas é preciso que fique claro que isso só dá certo até um determinado ponto. A vida costuma nos devolver, dia mais dia menos, aquilo que lhe damos. Já vi muito valentão de nariz quebrado. Acho que sempre existe alguém que consegue ser um pouco pior do que imaginávamos que seria capaz.”
Então, ela pergunta o que faremos. Se iremos “ensinar aos nossos filhos os vocábulos chulos que conhecemos, para serem usados em caso de necessidade, ou se vamos auxiliá-los a se cercarem de preciosos amigos, que entendam o valor da educação e do respeito ao próximo?”. Estes exemplos de dignidade devem ser vividos no lar, num ambiente que também precisa ser harmonioso e cheio de calor humano. Aos pais cabe a educação em casa, começando pelos fundamentos do respeito por si mesmo e pelo próximo.
A educação e o respeito jamais cairão de moda. Nunca será ultrapassada a pessoa que diz “muito obrigado”, que pede “com licença”, que fala baixo, que se comporta com elegância, preocupando-se com quem está a sua volta, tratando a todos com a mesma consideração, entendendo que somos iguais perante a lei. Um querido professor de matemática, dos tempos do ginásio, costumava dizer: “Pois é... somos todos iguais, mas uns se julgam mais iguais que os outros”.
Nunca será demasiado bater na tecla de que a vida é preciosa e precisa ser cuidada, amada e respeitada. Que a vida é dom divino e ao Criador pertence decidir sobre ela. Que a natureza nos fornece o necessário para nossa sobrevivência e necessita ser preservada. O outro é alguém que devo respeitar e não olhar com desdém, ou vendo um inimigo em toda pessoa que cruza o meu caminho. “Esse aí tem uma cara...” – como se fosse possível julgar pela aparência. E a essência, quem é que vai ver?
O respeito é o que há de mais belo na convivência humana. Lembrar do vizinho que mora ao lado e que não é obrigado a ouvir latidos de cães por horas seguidas. Ou o rádio alto. Respeitar a vez do outro na fila ou no trânsito. Respeitar a opinião alheia. Ninguém é dono da verdade. Respeitar as decisões tomadas em conjunto para o bem de uma comunidade. Ouvir, dialogar, compreender. Não julgar. Respeito, respeito, respeito. É tudo o que falta. No trato da coisa pública, no amor à vida, no amor ao próximo, no amor a Deus.
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Marisa F. Bueloni é formada em pedagogia e orientação educacional
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